quarta-feira, 12 de março de 2008

MONTENEGRO E A LUTA CONTRA A SIDA




MONTENEGRO é um estrondoso grito social contra todas as formas de discriminação social, todos os laços de discriminação que se unem para rebaixar e destruir a autenticidade da natureza humana.

Neste sentido, a Liga Portuguesa Contra a Sida associou-se ao lançamento de MONTENEGRO (dia 30 de Março, no Chiado) e a Dra. Maria Eugénia, Presidente da Liga, fez-nos chegar o seguinte comentário, que muito agradecemos:



Uma historia de Vida, de um Homem, com um Sonho,de um presente que devia pertencer ao passado, sobrevivendo ao vírus social, à Solidão, à Ignorancia, à Discriminação e ao desAmor!


Uma luta que dura há 18 anos, tantos quantos a Liga tem e,porque para nós a Solidariedade tem um valor inestimável e,porque acreditamos que ser Solidário, é partilhar sem nada receber em troca ...acreditamos também que este gesto contribuirá para mais e melhor a Liga fazer, até ao limite do esforço de todos aqueles que com ela colaboram....



Liga-te a nós....E UMA BOA LEITURA!!!




Dra. Maria Eugenia, Presidente da Liga Portuguesa Contra a Sida




André Ventura agradece profundamente a possibilidade de colaborar com a Liga Portuguesa Contra a Sida e explica as suas razões, fundamentos e objectivos no site oficial em http://www.montenegro2008.no.comunidades.net/index.php?pagina=1019257863

MONTENEGRO IV - A ULTIMA BATALHA


Visto ao longe, Luís encarnava a imagem fiel de um dos miseráveis de Vítor Hugo. Exasperava desesperadamente, como se procurasse romper lanços feudais que o amarravam desde tempos históricos imemoriais. Cobria-lhe o olhar um brilho próprio das classes revolucionárias, do espírito de Rosseau e Montesquieu, incansável na busca de uma perfeição que se situa algures na terra, entre o espírito controverso dos homens e a exactidão dos números. Lutava contra a química e as necessidades básicas de um corpo em acelerada decomposição, tal como o condenado procura evitar desesperadamente as galés.


Era um obstinado Jean Vayean, quase sufocado pela estrutura inabalável dos seus princípios.



No cubículo, não era mais nem menos do que Rosa, toda encolhida numa minúscula caixa de cartão, ao sabor do vento, dos dissabores urbanos e da crueldade indistinta. Também ele podia conhecer o que era não ter dignidade ao olhar dos outros, ser pontapeado no estômago sem piedade, ver a casa destruída por uma acto de pura excitação vândala.



Paris deve ter sido assim, em 1789. Assim a Bastilha, na véspera de ser violentamente assaltada. A resistência do que sempre foi e nunca imaginou sequer poder deixar de ser é talvez o mais feroz dos inimigos. Só ultrapassada claro, pelo espírito do que nunca foi e sempre lhe foi barrado ser ou sonhar ser. Assim Luís, envolto na névoa de cefaleia a que se habituara, no odor pesado de transpiração, com o sorriso de Mordechai na carteira e na mente.
Enquanto pedalava, não era mais do que todos aqueles que, no rigoroso Inverno de Varsóvia, seguiam Mordechai embalados numa utopia dramática: a de que a racionalidade, mesmo quando escassa e impotente, pode vencer a brutalidade, mesmo quando massificada e poderosa. Enquanto agonizava de dúvida, de frustração e de medo não era mais do que aqueles que acabaram por sucumbir à indiferença da pólvora, sempre ao serviço de quem a detém.



Queria vencer pela virtude, pela história em si mesma, pelo destino que acreditava jogar-se ali, na exaustão dos seus músculos (...). Na sua alma, porém, a transformação desejada operava-se lentamente, deixando que o sorriso de Mordechai e a serenidade cândida de Cláudia substituíssem progressivamente a combustão de ódio e de vingança.