quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

MONTENEGRO II - a descida








"Enquanto descia a serra alimentava-se de um desejo compreensível de liberdade. Liberdade para a vida, liberdade na doença, liberdade ‘apesar’ da doença. Sentia o ar a bater-lhe na cara, o cabelo a querer despegar da cabeça, as folhas a caírem e a pintarem os céus com pintas de amarelo antigo, dourado, e apeteceu-lhe deixar de ser ele e ser apenas mais um fragmento daquela natureza, daquela paisagem que se erguia perante os seus olhos e lhe fazia estremecer o corpo. A doença, o mal, o fracasso, o impossível, o não aconselhável, o correcto, tudo isso não eram mais do que palavras, conceitos surpreendentemente vazios e inoperativos ali, na combinação plena da natureza com o homem, naquela canção comum de felicidade.


A velocidade aumentava, as folhagens das árvores lembravam o cabelo solto de Cristina, numa noite incrível dum quarto de hotel, os troncos sólidos das Oliveiras sucediam-se quase sem se notar, como ele próprio gostava de sentir ao deixar os outros ciclistas para trás, exaustos. O céu enegrecia e formava-se um quadro pitoresco, uma espécie de amálgama onde brotava todo o tipo de vida e onde ele se recordava dos seios de Cristina e das pernas longas de Rosa, da dourada Cristina e da pele branca, angélica de Rosa, encolhida na sua caixa de cartão. A velocidade apresentava-se ali como uma metáfora espantosamente real da sua vida, veloz, talvez fugaz, mas intensa e imparável. Ainda povoava o seu cérebro a imagem dourada de Cristina, com um ínfimo brilho do sol que aparecia timidamente antes do anoitecer definitivo sobre a Serra das Banjas."

9 comentários:

IIMPRESSÕES DE FIM DE VIAGEM disse...

So com este pequeno excerto consigo adivinhar uma grande obra. Um estilo ousado, uma escrita profunda mas incontestavelmente aliciante. Fico a espera que a obra saia

Inês Ângelo disse...

Estou orgulhosa!
Muitos PARABÉNS!!!
Quando é o lançamento? Quero iiiiiirr!!!
Beijinhos,
Inês (Ângelo)

Anónimo disse...

Ao que parece um livro que junta dois mundos tão entusiasmantes e, aparentemente, tão separados: a literatura e o ciclismo. Estes excertos deixam vontade de ler mais, o que é um bom indício, bem como a referida inspiração em Lance Armstrong. Espero então o dia da apresentação que terei todo o prazer em estar presente.
Cumprimentos
Vítor Hugo Tomás

Anónimo disse...

Quem me dera ser essa Cristina num quarto de hotel contigo...
Nao vou perder uma historia tao aliciante como e evidente...

Veronica Castro

Anónimo disse...

Quero desde já dar-te os Parabéns pela coragem e dedicação que são necessárias para escrever um romance. Espero ansioso pelo lançamento, pois vou aproveitar este livro para voltar à leitura.

Abraço
Luís Lopes

Anónimo disse...

Ahh, e olha que ótimo: eu vou ser a primeira a ter esse livro aqui no Brasil!
Não esqueça da sua promessa de me enviá-lo assim que o lançar! =D
Estou adorando os enxertos a expectativa, para ler o livro completo, é grande!

beijos!
=*

Anónimo disse...

Quando leio algo tenho de o sentir... Tenho de me arrepiar, tenho de chorar, tenho de rir, tenho de sonhar!

Estes pequenos excertos deram-me vontade de ser o vento, de ser as folhas, de ser aquele homem a pedalar não se sabe (ainda!) bem para onde!
Deram-me vontade, igualmente de ser aquela Cristina de cabelos ao ventos, deram-me vontade de estar naquele quarto de hotel, deram-me vontade de... ler este livro que julgo que será magnífico!

Aguardo o lançamento e vai preparando já o próximo... Teremos de ter Veneza à mistura e um regresso lá!

Muitos beijos e muita sorte!

Cátia Rocha Santos

Anónimo disse...

Gostei do que li, mas desconfio sempre de tudo o que envolve muita publicidade e carinhas bonitas e maquilhadas na pagina principal...

Vamos ver!

Antonio Martins, Setubal

Anónimo disse...

André, passei pelo teu blog, parei,li... e cada vez mais acredito que de facto, quanto mais se faz pela vida, mais se sobe no caminho da excelência. Tu, um rapaz que vi, maior parte do trabalho, tens sido uma grande fonte de inpsiração para muitos que te conhecem. continua a trabalhar meu caro.
Um abraço amigo. Pakisi